segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

MARGARET ATWOOD

Uma criança triste
Você está triste porque está triste. É psiquico. É a idade. É químico. Visite um psicólogo ou tome um remédio, ou abrace sua tristeza como uma boneca sem olhos você precisa dormir.
Bem, todas as crianças são tristes mas algumas melhoram. Dê graças pelo que tem de bom. Melhor, compre um chapéu. Compre um casaco ou um animal. Faça aulas de danças para esquecer.
Esquecer o quê? Sua tristeza, sua sombra, o que quer que tenham feito com você no dia da festa no gramado, quando você entrou em casa corada de sol, boca amuada de açúcar, usando o vestido novo de laço e a mancha de sorvete, e disse para si mesma no banheiro, eu não sou a filha favorita.
Querida, no final das contas, quando a luz é fraca e a neblina se espalha e você está presa em seu corpo capotado embaixo de um lençol ou de um carro em chamas,
e a flama vermelha está saindo de você e incendiando a pista ao lado de sua cabeça, ou o chão, ou o travesseiro, nenhuma de nós é; ou então, somos todas.
Margaret Atwood nasceu em Ottawa em 1939. Já esteve em uma das edições da Feira Literária Internacional de Paraty, onde tive o prazer de apertar sua mão e trocar algumas palavras. É a grande responsável pela disseminação da literatura canadense contemporânea no mundo. E é minha grande musa.


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